Valores da Biodiversidade - Qual é o valor do bioma da Caatinga no Norte de Minas Gerais?
Na publicação da semana passada, dentro da contextualização dos valores da diversidade, abordamos a caatinga como um importante e único bioma brasileiro.
A região do Norte do Estado de Minas Gerais é abrangida pela conversão dos biomas do Cerrado e da Caatinga, e demonstra uma riqueza exclusivamente rica em diversidade biológica, sendo assim, um importante cenário de bioprospecção (pesquisa e exploração da biodiversidade de uma região, dos seus recursos genéticos e bioquímicos de valor comercial).
Oliveira et al.,(2006) consideram as plantas nativas são utilizadas na alimentação, medicina popular, indústria coméstica, novos fármacos e biocombustíveis.
Como é referido no Millennium Ecosystem Assessment (2005) os ecossistemas de um país e seus serviços ecossistêmicos representam um ativo de capital, mas os benefícios que poderiam ser alcançados através de uma melhor gestão desse ativo estão mal refletidos nos indicadores econômicos convencionais¹. A partir desta premissa, constata-se que a região do Norte do Estado de Minas Gerais apresenta um valor de Índice de Desenvolvimento Humano - IDH inferior em comparação a muitos países pobres do mundo. Há um paradoxo observado entre a riqueza da biodiversidade, principalmente das plantas e a situação atual de carência das pessoas desta região.
Ressalta-se que são retirados das plantas, importantes compostos - os óleos essenciais - substâncias voláteis associados a várias funções vitais à sobrevivência do vegetal em seu ecossistema, com papel fundamental na defesa contra microorganismos e predadores, além de atração de agentes polinizadores. Logo, as espécies nativas são fontes de renda para agricultores do semiárido mineiro. O principal fator ocorre porque a produção agrícola é quase que exclusivamente de subsistência, por diversos agravantes limitadores, destacando a queda da produtividade das lavouras em longos períodos de seca; esgotamento dos solos e o aumento da incidência de doenças e pragas nas plantações. Da vegetação nativa, os agricultores extraem recursos para o consumo e comercialização. O extrativismo de plantas nativas é expressivo, contribui para obtenção de alimentos e remédios, além da geração de renda através da comercialização (Oliveira et al.,2006).
No Brasil, há importantes estudos que valorizam a biodiversidade em biomas tais como a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa e o Pantanal. Porém, existe uma lacuna em termos de pesquisa em regiões de características fisionômicas peculiares, como as encontradas na região Norte do Estado de Minas Gerais, principalmente, nas “Matas Secas” (Florestas Decíduas) onde há transição de biomas do Cerrado para a Caatinga, e consequentemente ao desmatamento com fortes tendências para desertificação. É de suma importância conhecer e valorizar essa biodiversidade para recuperar, conservar e aproveitar toda riqueza de seus recursos naturais da forma original, dentro das concepções sustentáveis do saber técnico e social, principalmente para a população nativa regional sobrevivente e dependente deste ecossistema.
¹Tradução livre da autora. No original “A country’s ecosystems and its ecosystem services represent a capital asset, but the benefits that could be attained through better management of this asset are poorly reflected in conventional economic indicators”
Referências Bibliográficas:
Millennium Ecosystem Assessment. Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. Washington, DC: World Resources Institute, 2005, p.16.
OLIVEIRA, Dario Alves de et al. Potencial da Biodiversidade Vegetal da Região Norte do Estado de Minas Gerais. Revista UNIMONTES Científica, http://www.ruc.unimontes.br/index.php/unicientifica/article/view/278/261 [10 de novembro de 2018].
IMAGENS: Cecileny Cecília(2018)